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Angola: É a vez dos genéricos indianos.

O preço dos medicamentos em Angola é insuportável, principalmente para quem sofre doença cronica. Por exemplo, uma caixa de 20 comprimidos de um hipotensor, que em Portugal custa 5,10 euros, custa em Luanda 9.602 kwanzas ou seja, mais de 18 euros. Paga-se o triplo por um medicamento subvencionado no país de origem.

Grande parte dos medicamentos actuais são remédios. A doença esta controlada se tomar o remedio, se não o tomar ela avança. Isso garante um lucro estável as farmacêuticas durante um certo tempo. Após 20 anos finaliza o período de graça. Durante esse tempo ninguém pode comercializar a sustância activa, sem a anuência do proprietário. Assim que finaliza a validade da patente é a vez dos medicamentos genéricos.

Os medicamentos genéricos possuem o mesmo princípio ativo, a mesma dosagem, a mesma formula farmacêutica e método de administração que os medicamentos de referência. Os genéricos são muito, e enfatizo, muito mais baratos que os medicamentos originais. Para lançar um novo medicamento, os laboratórios farmacêuticos fazem estudos durante anos. Há um custo enorme em testes clínicos e na publicidade. Na fabricação dos genéricos se pula essas etapas. O genérico é a cópia de um medicamento com eficácia comprovada pelo uso. Com um menor custo de produção, tem um preço de venda inferior.

Em 1999 o Brasil aprovou a Lei dos Medicamentos Genéricos. O objetivo foi melhorar o acesso da população a tratamentos eficazes, seguros e mais baratos. Muitos dos genéricos são produzidos por empresas brasileiras, outros são importados. Algo parecido aconteceu noa Estados Unidos, onde a FDA autorizou a comercialização de medicamentos com patentes expiradas. Muitos países africanos também preconizam a utilização dos genéricos.

Tenho observado pacientes assistidos na Africa do Sul que regressam ao país com frascos de medicamentos genéricos, alguns elaborados em laboratórios locais. Nenhum dos pacientes tem dúvidas da qualidade dos mesmos. Em Angola nem os pacientes, nem os médicos, tem o hábito de utilizar medicamentos genéricos. No Brasil é recomendado sempre que seja possível, a prescrição de medicamentos genéricos dentro do sistema público de saúde. Só se não houver um genérico a altura é que o médico prescreve o medicamento de marca. Por cá é o contrário, principalmente se o medicamento recomendado for português.

A Índia é o principal fornecedor mundial de vacinas. Mais do 60% das vacinas que utiliza a OMS são fabricadas em laboratórios indianos. A maioria dos programas de vacinação nos países subdesenvolvidos utiliza essas vacinas. Os programas de tratamento de pacientes com HIV são mantidos com esses retro-virais. Muitos seropositivos dependem deles para continuar vivos. Por que não os genéricos indianos?

A maioria dos que desconfiam dos medicamentos indianos desconhece que muitas epidemias em Angola foram travadas com vacinas “Made in India”. Levam os filhos a apanhar vacinas indianas, mas desconfiam dos antibióticos e analgésicos fabricados por eles.

 Médicos, farmacêuticos e até o vizinho recomendam sempre tomar medicamentos portugueses. Ironicamente em Portugal se consumem medicamentos indianos. São muitos os interessados em conservar estos hábitos. Imagine o que aconteceria se a gente deixa de comprar esses medicamentos, e começa a utilizar genéricos com a mesma qualidade, mas com metade do preço.

A sustentabilidade dos serviços de saúde em Angola passa, tal e como no resto do mundo, pela utilização dos medicamentos genéricos. Não interessa a proveniência, cabe ao Ministério da Saúde fiscalizar a qualidade, a segurança e a eficácia dos mesmos.

Nos Estados Unidos de América há uma lista dos medicamentos genéricos que podem ser comercializados. Existe também uma lista negra com empresas banidas de qualquer comercialização. O governo da Índia tem a sua lista, tal como o do Brasil e Portugal. Qualquer um pode consultar estas listas, estão na Internet.

Devemos começar a utilizar os medicamentos com base na activa e a composição. A mudança de actitude deve começar pelos médicos, que devem estar a par dos genéricos confiáveis comercializados nas farmácias. Os farmacêuticos devem ser capazes de explicar aos clientes, por exemplo, que o Panadol tem como substância activa o Acetaminofen, que é a mesma do Paracetamol. Que o genérico Acetaminofen custa um terço e assim por diante com outros medicamentos. Mais importante do que os lucros de uns poucos, é a sobrevivência de muitos outros.

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